Entre o afeto e algoritmo – por que buscamos reconhecimento nas redes sociais?

Entre o afeto e o algoritmo: por que buscamos reconhecimento nas redes sociais?

(Ederson Malheiros Menezes)

Vivemos em uma era paradoxal. Nunca estivemos tão conectados — e, ao mesmo tempo, tão carentes de conexão genuína. É nesse contexto que as redes sociais emergem não apenas como plataformas tecnológicas, mas como espaços simbólicos onde buscamos algo profundamente humano: reconhecimento, pertencimento, validação.

É comum ver críticas à busca por curtidas, seguidores ou aprovação digital. “Tudo isso é vaidade”, dizem alguns. “As pessoas só querem aparecer”. Mas o que essas críticas ignoram é que o desejo de ser visto, ouvido e acolhido não é superficial — é essencial.

A sociologia mostra que o ser humano é um ser social. Desde o nascimento, precisamos do olhar do outro para nos constituirmos como sujeitos. Precisamos ser reconhecidos para nos reconhecer.

No passado, esse reconhecimento vinha da comunidade, da família, da religião, do trabalho. Mas boa parte dessas instituições perdeu força ou estabilidade. O digital passou a ocupar esse vazio relacional — não por capricho, mas por necessidade.

As redes sociais são ambíguas. Elas mercantilizam emoções, mas também democratizam a visibilidade. Elas nos expõem, mas também nos aproximam. Criticar apenas o uso das redes sem entender a escassez afetiva da vida moderna é um reducionismo perigoso.

A pergunta central não é “por que as pessoas querem curtidas?”, mas sim:

“Onde mais elas poderiam ser vistas, ouvidas e acolhidas hoje?”

Por isso, a crítica sociológica mais sensível precisa ser feita não contra o indivíduo que busca afeto, mas contra a estrutura que comercializa esse desejo legítimo.

As redes sociais não criaram a nossa carência. Elas apenas a revelam — com todas as suas contradições.

Ederson Malheiros Menezes
Professor independente em temas ligados à vida e aos valores humanos
www.edersonmenezes.com.br