
O Cansaço das Revoluções: quando a promessa não se cumpre
(Ederson Malheiros Menezes)
Houve um tempo em que, ao realizarem grandes mudanças em suas vidas, as pessoas diziam com orgulho:
“Eu fiz uma revolução na minha vida.”
A palavra “revolução” carregava o peso simbólico de algo transformador, corajoso, até heroico. Ela evocava rupturas profundas — como as que marcaram a história da humanidade.
Mas será que as grandes revoluções da história cumpriram o que prometeram?
A leitura da obra Ter ou Ser?, de Erich Fromm, despertou em mim essa reflexão.
Fromm apresenta a Revolução Industrial como uma promessa grandiosa: desenvolvimento, liberdade, felicidade.
Porém, na sequência, ele denuncia a frustração humana frente à falência dessa promessa.
Produzimos mais, mas nos tornamos mais vazios.
Nos tornamos mais “livres”, mas mais dependentes.
Prometemos o paraíso tecnológico, mas colhemos solidão e ansiedade.
Isso me levou a olhar para outras revoluções com os mesmos olhos sociológicos.
O que cada uma prometeu? Cumpriu? E por que tantas falharam em seu propósito humano mais essencial?
📜 As promessas revolucionárias na história
Revolução | Promessa central | Cumpriu? | Por que falhou (ou falha)? |
---|---|---|---|
Agrícola (10.000–2.000 a.C.) | Superar a fome com produção estável | Parcialmente | Criou desigualdade, sedentarismo forçado, guerras por território |
Científica (séc. XVI–XVIII) | Iluminar o mundo com razão, curar doenças, eliminar a ignorância | Parcialmente | Reduziu saberes à técnica, esvaziou o simbólico, gerou arrogância científica |
Industrial (séc. XVIII–XIX) | Produzir em massa, reduzir esforço humano, prosperidade | Não | Produziu alienação, exploração, cidades insalubres, pobreza operária |
Verde (1940–70) | Acabar com a fome global com tecnologia agrícola | Não | Aumentou dependência de químicos, concentração fundiária, destruição ambiental |
Energética (séc. XX) | Fornecer energia abundante para todos | Parcialmente | Causou danos ecológicos, guerras por petróleo, exclusão energética |
Computacional (1950–2000) | Agilizar a vida, democratizar o acesso à informação | Parcialmente | Produziu desemprego estrutural, dependência digital, exclusão informacional |
Digital (1980–presente) | Conectar todos, dar voz a todos | Parcialmente | Geração de vício, polarização, superficialidade nas relações |
Inteligência Artificial | Automatizar tudo, resolver problemas humanos com máquinas | Incerto/atual | Risco de desumanização, desemprego cognitivo, crise de identidade |
🧭 O que há de comum nas promessas?
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Todas querem aliviar o sofrimento humano, seja com alimento, conhecimento, tecnologia ou liberdade.
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Todas apostam no progresso técnico como redenção.
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Todas apostam que o ser humano será mais feliz tendo mais controle sobre o mundo.
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Todas se apoiam em uma ideia material de realização: o “ter” antes do “ser”.
🧨 Por que tantas fracassam?
A resposta talvez esteja em algo que Fromm e outros pensadores como Byung-Chul Han ou Charles Taylor apontam:
A promessa externa substitui a transformação interna.
Criamos mundos mais produtivos, mas não criamos pessoas mais conscientes.
Avançamos na técnica, mas não avançamos na ética.
Aumentamos a conexão, mas diminuímos o vínculo.
Produzimos para sobreviver, mas esquecemos como viver.
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As revoluções tecnológicas ignoram dimensões como a alma, o sentido, a comunidade, a contemplação.
🔄 Continuar fazendo revoluções é o caminho?
Não necessariamente.
Talvez tenhamos chegado ao esgotamento do modelo revolucionário — este que rompe, promete, entusiasma… e depois frustra.
É possível que o nosso tempo não precise de mais uma revolução,
mas de um processo mais lento, orgânico e ético:
uma transformação regenerativa.
A tecnologia pode ser aliada, mas sem sentido, sem vínculo e sem sabedoria, ela apenas acelera a queda.
✨ Uma nova pergunta
Será que agora, em vez de perguntar “qual será a próxima revolução?”,
não deveríamos perguntar:
“Como podemos resgatar o humano antes que ele se perca no meio de tantas promessas?”
Essa talvez seja a maior revolução que podemos viver —
e que começa dentro, e não fora.
📚 Ederson Malheiros Menezes é professor independente em temas ligados à vida e aos valores humanos. Mestre em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social, atua na promoção da consciência crítica com base na sociologia.
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